Mahalia Jackson
Há
certas canções que marcam tanto a nossa vida, mas a maioria de nós tem a mínima
ideia de como surgiu, em que contexto, com qual motivação, e etc. Esse é o caso
de “Joshua Fit The Battle of Jericho”, umas das canções mais importantes na
história da música cristã internacional, cuja origem e sucesso são no mínimo
interessantes!
Conforme
consta do The Heritage Encyclopedia of Band Music de William Rehrig essa canção surgiu na primeira metade do século
XIX entre escravos americanos e por isso trata-se de uma canção do gênero Negro Spirituals, cuja temática estava
sempre relacionada a histórias bíblicas de luta, esperança, superação e
libertação – algo que tinha tudo a ver com o contexto social em que aqueles
escravos se encontravam. Se fizermos uma análise superficial dessas letras,
rapidamente descobriremos o seu teor político e abolicionista também, embora
essas temáticas apresentassem duplo sentido (bíblico e político). Convém dizer
que essa música é fortemente influenciada pelo Segundo Grande Despertamento (1790 – 1840), movimento que
enfatizava a salvação, vida renovada e que teve enorme participação na abolição
do trabalho escravo nos Estados Unidos.
Algumas poucas
referências afirmam que “Joshua Fit The Battle of Jericho” foi
registrada por Jay Roberts no ano de 1865, porém essa informação é controversa,
embora tenhamos notícias que algumas canções do Negro Spirituals só começaram a ser registradas por volta de 1860,
ano em que vários estados americanos já haviam abolido a escravidão e alguns
escravos libertos puderam publicar suas composições.
A
primeira versão gravada de “Joshua Fit The Battle of Jericho” foi realizada em setembro
de 1922 (1924?) pelo quarteto Harrod’s
Jubille Singers, um importante conjunto evangélico que percorreu o mundo em
várias turnês e foi o primeiro a gravar músicas do Negro Spirituals. A gravação foi feita pelo selo Paramount Records e dá o crédito da
música a Jay Roberts. O grupo ainda existe,
porém com o nome Fix Jubilee Singers, conta
com 16 membros e desde sua fundação, em 1871, vem sofrendo a troca dos seus
componentes. Depois dos Harrod’s Jubille
Singers dezenas de outros artistas vieram a regravar a mesma canção nos
Estados Unidos, de modo que essa tornou-se uma das mais bem conhecidas da
igreja americana sendo cantada ainda hoje, sobretudo em denominações
predominantemente formadas por negros.
Como
trata-se de dezenas de versões, convém, neste espaço, destacar as mais
importantes, como a do ator e ativista socialista Paul Robeson em 1925, da
premiadíssima Mahalia Jackson em 1958 e do lendário Elvis Presley que,
precisamente, gravou em 31 de outubro de 1960!
BRASIL – “SOLDADO DE CRISTO” / “VEM
COM JOSUÉ LUTAR EM JERICÓ“
Em
1973, Ozeias de Paula lançou pela Doce Harmonia um dos discos mais importantes
da música cristã brasileira, o disco Cem Ovelhas, cuja quarta faixa do lado B
trazia a primeira versão em português dessa canção que se tem notícia e recebeu
o nome de “Soldado de Cristo”. A versão de Ozeias de Paula incluiu apenas a
tradução do verso mais importante da canção original, a saber:
”Vem com Josué lutar em Jericó,
Jericó, Jericó
Vem com Josué lutar em Jericó, Jericó,
Jericó
E as muralhas ruirão.”
Assim
como nos Estados Unidos, no Brasil a versão de Ozeias de Paula foi regravada
por outros artistas, porém com o título Vem
Com Josué Lutar Em Jericó, como a aclamada banda Sinal de Alerta em 1999,
Aline Nascimento, Milton Cardoso e Victorino Silva. Em 2012, Jota A regravou a
canção com algumas modificações na letra. A canção na versão de Ozeias de Paula
foi cantada no Jovens Talentos Kids
do Raul Gil por Ana Karolyne e até o lendário João Alexandre já cantou em
vários de seus concertos.
Esse
breve histórico de Joshua Battlle of
Jerico nos leva a refletir o poder que tem uma música em abençoar o nosso
relacionamento com Deus, bem como ter ajudado na luta pela causa abolicionista
americana. Assim como na América do
Norte, no Brasil essa canção já tornou-se um dos tradicionais corinhos cantados
principalmente em ambientes pentecostais e em conjuntos infantis e somente a
eternidade poderá quem de fato a compôs e quantas vidas foram abençoados ao
ouvi-la!
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