quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

JANIRES: UMA LENDA QUE SE FOI HÁ 30 ANOS




Não dá para entender por que Deus leva para si pessoas tão talentosas, abençoadoras, boas e pacíficas, enquanto nas maternidades do meio evangélico todos os dias nascem, ou melhor, surgem e crescem milhares que são o oposto disso em pelo menos um aspecto. Não digo que nascem, pois para isso teriam de passar pelo crivo de João 3.5 ou se nascem é entre os espinhos. Um dia nasceu um homem e um dia esse homem foi levado ao Seio de Abraão, deixando órfãos aqueles que nasceram de novo e tem por pai a Deus, mas olham para aquele que os levaram a Cristo e só veem agora os rastros de uma história. E que história! Janires Magalhães Manso, uma lenda que se foi há 30 anos!
Aquele grupo de aproximadamente 1000 jovens que o aguardavam para participar do “Clubão” no dia 30 de janeiro de 1988 em Belo Horizonte nunca mais esqueceriam aquele homem com a sua Bíblia velha, rabiscada, rasgada e o seu violão, que lhe foram companheiros nas horas de íntima comunhão com Deus, de onde nasceram as canções que ensinaram uma geração de jovens a adorar e ver a Deus com novas lentes. Aquela Bíblia, aquele violão agora estavam jogados ao chão e aquela voz se apagou, deixando para a posteridade um legado que abençoaria as Helenas, os Alex, os Baltazares e todos aqueles não conseguem entender por que Deus leva pessoas tão cedo.
Assim escreveu Moisés França (Grupo Hagios): “Mais que um poeta que inovou a forma de expressar a fé, mais que um líder da maior banda cristã de todos os tempos que deixou sua marca inovadora, Janires era uma pessoa, cujo foco era Jesus Cristo de fato e não de boca.” Esse testemunho aguça o raciocínio, levando-nos a conceber uma imagem de como era o Janires e a partir disso chegar a conclusão de como a sua partida deixou uma lacuna enorme na música cristã. A lacuna foi enorme no final da década de 80, pois na música sacra Edison Coelho permanecia no topo, mas o rock cristão, que a duras penas conseguia sua consolidação, perdia o seu maior poeta ou talvez um profeta - um profeta maluco, cabeludo, sem terno e gravata que não precisava adocicar o evangelho para torná-lo mais palatável. O que era lacuna nos anos 80, hoje tornou-se um abismo, um buraco negro para onde até mesmo a música sacra está sendo engolida, enquanto, ao mesmo tempo, as pessoas engolem e digerem o que não é poesia, não é arte em seu real sentido e muito menos o evangelho. Por falar na maior banda cristã de todos os tempos, o Rebanhão, às vezes as decisões de Janires não eram compreendidas de imediato. Deixar o Rebanhão, do qual era líder e fundador, cuja ascensão naquele período era algo inédito no país, e fundar uma nova banda parecia uma atitude desconexa, mas assim ele procedeu com o coração ardendo pela vocação missionária e com ele sua velha Bíblia e o violão que lhe acompanharam em eventos evangelísticos em Belo Horizonte. Talvez a fama e a consequente notoriedade que o Rebanhão estava tomando pudessem atrapalhar o zelo missionário de um homem com hábitos simples que não se importava com eventos pomposos, mas se importava com as pessoas e ia lá onde elas estavam – nas esquinas, nas praças, nas ruas.
Janires vai muito além da música, da poesia e do evangelismo. Conta Jerô (Banda Fé) que nas conversas com ele só se falava das coisas do Reino, o que nos mostra o Janires do dia a dia – um homem de fé e íntima comunhão com Deus! “Estávamos sempre ministrando, principalmente nas vigílias, antes da vigília ficar famosa, quando não existia o templo grande da igreja (...) uma das pessoas mais parecidas com Jesus que eu já vi. Sempre esteve à frente de seu tempo e até hoje é moderno”, conta Jerô ao Reviva. Trata-se da conhecida vigília de Bento Ribeiro, cuja saída de Janires resultou na liderança assumida por Marcos Góes que chegou a gravar discos ao vivo com a esse título. Esse depoimento é muito forte, pois há pessoas santas em Cristo, e não tem talento para a música. Há pessoas que o possuem, mas não têm a santidade do Senhor. Janires conseguia reunir talento e uma espiritualidade profunda que antecedia e se sobrepunha ao “artista Janires”, de modo que falava diretamente aos corações daqueles que não conseguiam captar o evangelho nos moldes tradicionais, seja por meio da música ou mediante o testemunho pessoal, junto aos viciados, mendigos e prostitutas.
 Fala-se que “Festa de Arromba no Céu” foi apenas uma maneira criativa de fazer uma versão da música de Erasmo Carlos, mas o que se depreende dessa versão, considerando o contexto de repressão ao rock pelos evangélicos, é que no céu não haverá nenhuma discriminação quanto ao estilo musical, pois lá estarão reunidos e cantando uma só canção “Edison e Tita, Sinal Verde, Ozeias de Paula e o Maurão”, cantores com os seus mais diversos estilos, cuja união era um sonho naquela época, mas que “um dia vai se cumprir no lar celestial.” Esse era o Janires visionário, por vezes essencialmente romântico em sua forma de descrever a vida, o céu e a realidade ulterior e em outras vezes claro, denotativo e sem medo de falar de seus anseios e missão como discípulo de Cristo, expondo o evangelho em sua própria vida e sendo a Bíblia ambulante por meio de quem muitos foram atraídos a Cristo.

Enquanto escrevo, ouço “Alex, o Baixinho Voador”. Os meus olhos se enchem de lágrimas ao supor que talvez nessa música Janires estava cantando para si mesmo, como se estivesse descrevendo, inconscientemente, toda a sua história em uma única canção! Aquele acidente em 1988 foi uma tragédia para nós, mas como diz a própria canção “no céu quando você chegar e abrir o Notícias Celestial pra ler vai descobrir que as derrotas aqui serão consideradas vitórias pelos anjos, que do lado do seu nome no Livro da Vida tá escrito a palavra CAMPEÃO.

65 anos seria a idade que teria se estivesse entre nós, mas aprouve a Deus recolhê-lo, deixando nossos corações com saudades e também alegres, pois as pancadas que ele levou abriu caminho para o rock cristão no Brasil. Paradoxalmente, nos entristecemos, pois ficamos a nos perguntar: quem conseguirá sair do buraco negro e quando nascerá um novo Janires na nossa música? Será que é o desejo de Deus levar primeiramente os bons, em vez de preservá-los e para conservarem todo esse legado deixado? O conselho de Janires é este: “não deixa não a tristeza fazer pole position em seu coração.”.

Em Cristo, Aleckson Marcos para o Reviva Gospel

11 comentários:

  1. Belíssimo texto, parabéns AleCSON! Emocionante e pedagógico!

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    1. Parabéns pelo texto!Só quem acompanhou o trabalho de Janires,sabe que só há verdades neste texto.Era um verdadeiro adorador de Cristo.Sentávamos no chão para ouvi lo falar de Cristo e vivía o que ele passava para nós. Hoje é uma bagunça,hipocrisia e dinheiro.Saudades do Janires,MPC é do Clubao em BH!

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    1. Escrevi esse texto muito emocionado!

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    2. Eu tbm,sinto emoção e saudades qdo ouço falar de Janires!Tempos que nao voltam mais.

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  3. O CANTOR FELICIANO AMARAL JÁ FOI CITADO EM 3 LIVROS SOBRE A HISTÓRIA DA MÚSICA EVANGÉLICA NO BRASIL E NO LIVRO DA BIOGRAFIA DE ÁLVARO TITO.

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  4. OZÉIAS DE PAULA FOI O PRIMEIRO CANTOR EVANGÉLICO A VENDER 1 MILHÃO DE CÓPIAS NA AMÉRICA DO SUL COM O ÁLBUM CEM OVELHAS.

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  5. Janires vive! Suas canções nunca envelhecem e ele não se vendeu para mídia mundana. Tipo isso, o cantor começa e cresce com a Bandeira Branca e a Rocha Eterna e muda para a Polygram e para a Sony.

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  6. Na verdadede Ozeias de Paula deixou a Bom Pastor e foi hravar pela Som Livre da Globo.

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